Parceria Brasil-Reino Unido traz cariocas do Royal Ballet ao Rio
Da BBC Brasil, no Rio de Janeiro
Quando as cortinas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro se
abrirem nesta sexta-feira, a temporada 2013 do palco carioca será aberta com um
pas de deux inédito Rio-Londres.
Nervosismo em casa
Os brasileiros Roberta Marquez e Thiago Soares, que se tornaram primeiros bailarinos do Royal Ballet em 2004 e 2006, respectivamente, são os que melhor personificam a ponte entre as duas instituições.
Crias do Municipal, Roberta e Thiago já voltaram ao Rio para se apresentar com o corpo de baile carioca, mas é a primeira vez que dançam em casa pela companhia britânica.
Para Roberta, esta será a primeira vez no palco do Municipal desde 2009, quando dançou o Quebra-Nozes com o corpo de baile do teatro.
"Estou doida para dançar. Amo esse teatro. Eu sou a bailarina que sou por causa desse teatro. Aprendi muito aqui", diz ela, descoberta no corpo de baile quando Natalia Makarova, lenda viva do balé, veio montar La Bayadère no Rio e a escolheu como solista. A russa depois a levou para a Royal Opera House.
Carioca de Jacarepaguá, bairro de classe média na zona oeste do Rio, Roberta conta que se encantou pelo balé quando foi levada pela mãe para ver o Lago dos Cisnes no Municipal, com apenas 6 anos, e viu Ana Botafogo dançar. Ela diz que o nervosismo é maior quando volta para este palco.
"Fico mais ansiosa quando danço aqui do que lá fora, porque a plateia que está no Brasil é a que me viu crescer. É uma emoção muito grande."
"Se eu estivesse começando hoje, não sei se eu teria a mesma vontade de ir embora (do país). Na minha época, eu tive que ir, porque a indústria era muito pequena."
Thiago Soares, dançarino
Enquanto ajusta um tufo de algodão sobre os dedos dos pés para vestir a sapatilha de ponta, Roberta diz que já se acostumou ao frio de Londres e está estranhando os efeitos colaterais do calor carioca. "Meus pés estão inchados!", ri durante a entrevista à BBC Brasil.
Brasil 'bombando'
De resto, porém, o estranhamento que os dois bailarinos sentem ao voltar para casa é positivo. Thiago, que cresceu em São Gonçalo, município vizinho ao Rio, e já mora em Londres há 13 anos, afirma sentir otimismo sempre que volta ao Brasil, refletindo a percepção que tem lá fora de que o país está "bombando".
"A cada ano que eu venho, eu sinto uma grande diferença aqui. A indústria da dança está crescendo muito. Hoje temos musicais, temos peças de teatro com dança, temos companhias maravilhosas."
Hoje, a opção de sair do país não se apresenta mais como uma obviedade para profissionais em início de carreira, considera ele.
"Se eu estivesse começando hoje, não sei se eu teria a mesma vontade de ir embora (do país). Na minha época, eu tive que ir, porque a indústria era muito pequena. Não havia tantos papéis, tantas obras, tantos convidados. E não existia esse intercâmbio", diz, referindo-se à troca inaugurada entre a Royal Opera House e o Theatro Municipal.
Thiago começou a dançar com um grupo de street dance em São Gonçalo, seguindo os passos do irmão mais velho. O coreógrafo identificou seu talento e o levou para um Centro de Dança Rio, no bairro do Méier, na zona norte do Rio.
Hoje, o bailarino considera "fundamental" passar adiante a ajuda que teve. Ele é padrinho do projeto Ballet Santa Teresa, que atende a crianças e adolescentes carentes.
"Eu vou lá, dou aulas, converso com eles, dou um pouco do que eu aprendi e ajudo a desenvolver projetos, criar oportunidades para eles. Ajudo a trazer um pouco de mídia, patrocinadores. Tem que meter a mão na massa mesmo."
Para o bailarino, a vinda ao Rio com o Royal Ballet “é o começo da realização de um sonho” de trazer a companhia britânica "em peso" para a cidade.
"Com essa parceria entre o Royal e o Municipal, acredito que esse sonho vá se realizar em 2015. Esse é só um aquecimento, um programa reduzido comparado ao tipo de espetáculo que fazemos lá."
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