Gagik Ismailian - um coreógrafo que não pára!
O nome de Gagik Ismailian é bem conhecido do público português, sobretudo como bailarino do Ballet Gulbenkian (BG). Começou por fazer parte do elenco do grupo ainda jovem com o apelido Ismaily. Durante cerca de duas décadas, desempenhou muitos papéis principais em obras de coreógrafos tão emblemáticos como Barry Moreland, Heinz Sporeli, Peter Sparling, Elisa Monte, Christopher Bruce, Milko Sparembleck, Joseph Rousillo, Johnathan Lunn, Carlos Trincheiras, Lar Lubovitch, Hans Van Manen, Louis Falco, Nacho Duato, Jiri Kilian, Vasco Wellenkamp e Olga Roriz. Com estes dois últimos criou nada menos que 16 obras originais, tendo, inclusivamente, coreografado os seus primeiros trabalhos de parceria com Roriz. Após deixar aquele grupo, em 98, com o qual ainda mantém um forte vínculo afectivo (a sua esposa é bailarina principal do BG), acabou por permanecer em Portugal, país onde nasceram os seus dois filhos: Daniel com dez e Chloé com quatro anos de idade. Nascido no Irão, Gagik Ismalian, começou a estudar dança aos 7 anos na escola do Ballet Nacional do seu país com professores ingleses e russos. Posteriormente deixou a sua terra natal para ingressar na Legat School of Dance (1974 ) e na Escola do Ballet Real de Inglaterra, cujo curso concluiu em 1977. Entre os seus principais mestres destacam-se Piers Beaumont, Terry Westmoreland, Walter Trevor, David Drew, na escola da primeira companhia inglesa, e ainda Ruben Echeveria, Jane Blauth, Nancy Kilgore, Lynn Seymour e Lavern Mayer. Ainda estudante recebeu vários diplomas de escolas inglesas como a Royal Academy of Dancing e a Russian Ballet Society, bem como um "certificado de mérito" no Hastings Dance Festival (1976). Em Londres, depois de ter terminado a "Royal Ballet School" frequentava as aulas do antigo Dance Centre, e mais tarde, na Urdang Academy , entrou numa audição para o Ballet de Frankfurt tendo conseguido um contrato para a companhia. Nessa altura, Jorge Salavisa, então director artístico do BG assistiu a uma aula do Mestre Ruben Echeveria, e ofereceu-lhe um contrato para Portugal. "A Gulbenkian atraiu-me pois despertou em mim saudades da minha terra e uma certa nostalgia da minha origem arménia, o que me levou a optar pelo contrato do BG. Depois, tanto a minha vida pessoal, como a minha vida profissional, desenvolveram-se aqui de forma tão positiva que criei raízes muito fortes neste país. Entrou para a companhia da Gulbenkian em 1978, tendo, em 1981, sido promovido a bailarino principal. Na temporada 85-86 pertenceu ao Nederlands Dans Theater, onde trabalhou com os coreógrafos Jiri Kilian e Nacho Duato, regressando a Lisboa terminado o seu contrato na Holanda. Como bailarino convidado dançou o papel de Albrecht em "Giselle", em 1984, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (Brasil) e, em 1977, o Príncipe do "Quebra-Nozes" numa companhia da Florida (USA), o Sarasota Ballet. Os bailados que mais gostei de interpretar, afirma Gagik, foram "Três Canções de Nina Hagen", "Violoncelo... " e uma versão especial de "Espaço Vazio", todos de Olga Roriz; "Reunião em Portugal" e "Hero", de Louis Falco, "Em Memória de Piaf", "Outono" e "Libera me" de Vasco Wellenkamp, "Wings", de Christopher Bruce e "Nuages" e "Regresso a Uma Terra Estranha", de Jiri Kilian. Recebeu, respectivamente em 83 e 84, o prémio da revista Nova Gente para o melhor bailarino do ano. Em 1998, conquistou o segundo prémio do Festival de Dança e Teatro de Augsburgo (Alemanha) com uma peça interpretada pela bailarina Adriana Queiroz e, em 1996, um terceiro lugar no Festival Internacional de Ballet e Dança Moderna de Nagoya (Japão), com um solo para Marina Sacramento. Participou também na Osaka International Dance Competition e no Concurso International de Dança de Paris em 1985. Menos de um ano após ter chegado a Lisboa, aventurou-se na arte da coreografia, tendo criado para os estúdios coreográficos do BG (com Olga Roriz) "Invisíveis Limites" com músicas de Kraftwerk, Tangerin Dream e Vangelis (78) e "Que Loucos Que Nós Somos!…Tu Não és?" (79) também inspirado na música de Vangelis. Criaria posteriormente, ainda num contexto de "oficina coreográfica", "Dedicado A?..." (80), "18 Minutos de Morte" (81), "O Dia Depois" (83) e "Miragem" (87). "Gahvoreh" (88) foi a sua primeira obra para o Ballet Gulbenkian, sobre uma música original de António Emiliano, tendo--se seguido "Domingo, 29 de Novembro" (89), "Viagens em Branco e Mármore" (91), "Convivaldi" (92), "Momentum" (92), "Adeus… e Nem Voltei" (93), "Paixão" (94) e "Choro de Anjos" (94) "Suite No. 1" (96).
"Cada companhia tem as suas características, os bailarinos são a matéria-prima não só do coreógrafo mas também da própria companhia. Os recursos que elas oferecem variam muito mas o que, hoje em dia, tem uma enorme importância para o criador é o apoio técnico. Para mim, é difícil escolher exactamente qual a que prefiro mas a CêDêCê será a minha primeira escolha". Para o grupo de Setúbal coreografou "Dis-Figure-Action" (92), "Máscara de Ternura" (93) "Tempo em Silêncio" (93), "Tirana Saudade" (94), "Mecânico" (95), "Mascarada" (96), "O Véu" (97), "Indiferença" (97), "Rosa Azul" (97),"Trilogia" (98), "Amarelo Era a Cor" (99) e "Casino Paradis" (2000), uma peça que ocupa todo um programa. Para os alunos da Escola Superior de Dança criou "As Regras do Jogo" (95) e "Despedaçado" (97); para a Companhia de Bailado Contemporâneo estreou, em 1998 no Brasil, "Sonho na Palma da Mão" e, no ano seguinte, coreografou "Faces do Destino"; para a Companhia de Dança de Almada concebeu "Nadir" (99); para o Balé de Cidade do São Paulo (Brasil), "Máscara do Tempo" em 96 e, para o Ballet Nacional da Croácia (Zagreb), "Viajantes em Paralelo" e "Citadela" (1999), uma peça que preenche todo um programa. "A Cidade Perdida" para CêDêCê e "Citadela" (numa versão revista) são as minhas obras preferidas. A segunda, não por ser uma peça de noite inteira, mas porque se trata de uma obra baseada nas minhas raízes e tudo o que há de mais próximo da minha origem e herança cultural e sentimental. O facto de ter vivido tanto tempo fora da meu país, manifesta-se profundamente nesta obra. Também destacaria "Amarelo Era a Cor" (Philip Glass) e "Nadir" (Muslimguase, Lisa Gerrard) para Companhia de Dança de Almada, um trabalho que reflectia sobre um assunto polémico e sensível: a eutanásia. Gagik Ismailian participou também num trabalho de dança independente, "Zoo&lógica", em 1984 e, dez anos depois, coreografou a peça "Judite, Nome de Guerra", de Almada Negreiros.
"São muitos os intérpretes com quem gostei de criar, designadamente Pascale Mosselmans e Benvindo Fonseca, Rui Pinto e Barbara Griggi, Adriana Queiroz, os bailarinos de CêDêCê – incluindo Sónia Rocha e Patrícia Henriques -, Rita Reis e Liliana Mendonça entre outros. O coreógrafo tem trabalhado como professor convidado junto de companhias como a CêDêCê, o Ballet Gulbenkian, a Companhia de Olga Roriz, a Companhia Portuguesa de Bailado, o Ballet Nacional da Croácia e o Balé da Cidade. Actualmente encontra-se no Brasil, a trabalhar numa criação para esta última companhia, e numa nova peça para a Companhia de Danças de Diadema (São Paulo). A primeira com alguns fados e a segunda inspirada no tema das crianças mal tratadas e abandonadas, um assunto polémico e sensível naquele país. "Em Janeiro deverei remontar ‘Citadela’ na Croácia e, mais tarde, em Maio tenho agendada uma nova criação - uma peça para todo um programa - na mesma companhia, a estrear em Julho 2001. Depois do Verão já tenho acertada uma nova criação para Companhia de Dança de Almada. E assim as coisas vão correndo..."
Comentários
obrigado por qualquer informação deste grande amigo